Confiamos na sua rebeldia e na sua capacidade de contribuir para alterar a correlação de forças na sociedade brasileira
Aos lutadores e lutadoras do povo que batalham cotidianamente para construir uma sociedade justa e igualitária, a história das lutas sociais proporciona uma lição fundamental: sem a mobilização massiva da juventude não é possível viabilizar mudanças estruturais na sociedade. Nesse sentido o século 20, com suas revoluções sociais protagonizadas pela classe trabalhadora, é um bom exemplo do papel que cabe à juventude.
Quando a juventude se depara com instabilidades econômicas e mazelas sociais ameaçando o seu futuro, impulsiona movimentos e lutas contestatórias. Durante o século 20, no momento em que a insatisfação da juventude se encontrou com a possibilidade concreta de construção do socialismo, passou-se da luta contestatória para a perspectiva de uma nova ordem social. Esse espectro revolucionário aterrorizou as classes dominantes e é um dos fatores que influenciaram o surgimento do Estado de Bem-Estar Social em alguns países do capitalismo central e do ciclo desenvolvimentista na América Latina.
Em pleno século 21, podemos afirmar que se esgotou o ciclo de crescimento das economias capitalistas. Esse ciclo absorveu parte considerável das reivindicações das lutas da classe trabalhadora. Grande parte dos direitos sociais conquistados nas lutas foi destruída nos anos de neoliberalismo. Passou a época gloriosa do emprego e da renda. Estamos num período histórico onde predomina no mundo o desemprego estrutural e a perda de direitos sociais que assegurariam estabilidade ao futuro da jovem classe trabalhadora.
Por isso, diante da crise econômica, mais uma vez a juventude de diversos países se depara novamente com um presente instável e com um futuro incerto. Assim, não foi por acaso as recentes mobilizações protagonizadas pela juventude na chamada primavera árabe, na luta pela educação no Chile, nas manifestações dos indignados na Espanha, nas revoltas espontâneas dos jovens ingleses, dentre outras.
O aprofundamento da crise econômica e sua influência no Brasil comprometerão a base de sustentação do crescimento da economia brasileira: a entrada maciça de capitais estrangeiros, o acesso ao crédito e os preços elevados das exportações de commodities. Um quadro como esse colocará imensos desafios para a juventude e para o conjunto da classe trabalhadora brasileira, que no momento encontra-se dispersa e sem projeto político.
É sabido por todos que a juventude brasileira segue sendo exterminada nos centros urbanos e não tem perspectiva de futuro no campo brasileiro devido à paralisação da reforma agrária. Aliás, até mesmo o acesso à educação superior não significa acesso ao emprego como em épocas anteriores. Comprova-se cada vez mais que, nessa conjuntura, educação não é sinônimo de ascensão social como prega o generoso princípio republicano.
No último período a atuação dos movimentos de juventude tem se limitado a reivindicações por políticas públicas para juventude. De fato, políticas públicas são importantes, mas são também insuficientes, pois o que pode mudar as condições de vida da juventude brasileira é um conjunto de reformas estruturais na sociedade. Portanto, não há outra saída ao pensarmos a organização da juventude que não seja como portadora de um projeto político que busca concretizar reformas estruturais na sociedade.
O destino da juventude brasileira não depende simplesmente de uma pauta específica, mas sim de um conjunto de reformas democráticas, nacionais e populares que se expressa no que temos chamado de Projeto Popular Para o Brasil. Dessa forma, as lutas da juventude assumem uma posição de classe social proletária e identifica o seu futuro com o destino das lutas de seu povo. Nessa perspectiva a juventude não é um conceito abstrato separado da classe trabalhadora, mas parte fundamental da força social da classe trabalhadora do campo e da cidade, reivindicando o mesmo projeto político.
Para a juventude ser portadora de um projeto político de natureza popular, é necessário avançarmos na organização da juventude brasileira. Iniciativa importante nesse sentido está sendo concretizada pela construção do Levante Popular da Juventude. Esse jovem movimento com identidade de juventude, mas com uma pauta popular, se desafia a resgatar a clássica tradição das lutas sociais latino-americanas de unir o trabalho estudantil e popular. A juventude brasileira está diante de um conjunto de contradições sociais que ameaçam sua própria existência. As lutas sociais são construídas em função dessas contradições. Portanto, há um espaço enorme para avançarmos na organização da juventude.
Caso o movimento das contradições da realidade concreta proporcione a retomada de um forte movimento de massas no Brasil no próximo período, significa que, necessariamente, a juventude entrará em cena. Confiamos na sua rebeldia e na sua capacidade de contribuir para alterar a correlação de forças na sociedade brasileira.