A Organização Internacional do Trabalho estima que entre 2002 e 2010, foram cerca de 21 milhões as vítimas do trabalho forçado, entendido também como exploração sexual. Todos os anos cerca de dois milhões de pessoas são vítimas de tráfico sexual, 60% das quais são meninas, enquanto que o tráfico de órgãos humanos atinge quase os 11% do total. Quem recorda estes dados horripilantes é Dom Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, numa entrevista à colega da RV Francesca Sabatinelli.
R. - Na origem de tudo está o Santo Padre que já tinha conhecimento destes problemas. Logo após a sua eleição, recebeu-nos em audiência, nós da Pontifícia Academia das Ciências Sociais. Na carta de agradecimento que lhe foi enviada mais tarde, os conselheiros também tinham perguntado se desejava que nos ocupássemos de algo em particular e ele, imediatamente, com o mesmo envelope respondeu: "Marcelo, quero que se estude o problema das novas formas de escravatura e do tráfico de pessoas, incluindo o problema da venda de órgãos". Assim, a Academia começou a trabalhar. Vimos, porém, que era necessário envolver os médicos e por isso chamámos os médicos católicos, porque o presidente da Federação Internacional das Associações Médicas Católicas, José María Simón de Castelvì, quis colaborar; e em seguida, também a Academia de Ciências, porque as soluções também podem ser de carácter científico. Assim nasceu a iniciativa.
O fenómeno do tráfico, ou escravidão moderna, é analisado sob quais aspectos?
R. - Em todos os aspectos. O que nós queremos é perceber a real dimensão do fenómeno, que um pouco já se sabe, mas contudo queremos ter dados mais precisos. Queremos também alcançar uma ideia comum para a Igreja, para as Conferências Episcopais. Existem Conferências Episcopais, como a inglesa por exemplo, ou a de Guatemala, que elaboraram alguns documentos, mas creio que a Igreja como um todo não tem suficiente consciência do problema. E depois, queremos encontrar orientações concretas: pedimos a todos os convidados, aos observadores bem como aos relatores, para nos enviarem propostas concretas, e agora estamos a avaliá-las. Tem uma muito interessante apresentada por um médico, que sugere para preservar o DNA de crianças desaparecidas, juntamente com o dos pais que denunciam o seu desaparecimento, e confrontá-lo: de facto, a primeira coisa que os traficantes fazem é cancelar as suas impressões digitais.
Sabemos que na origem do tráfico, estão as condições de extrema pobreza, guerras, conflitos internos ... Há uma parte do mundo que explora tudo isso ...
R. - E vamos dizer isso . Começando por aqueles mesmos Países que têm leis que fazem um jogo duplo : por um lado, falam de vida humana, por outro lado as suas próprias instituições não querem ver este problema, ou até mesmo o favorecem . Por exemplo, peguemos naquilo que aconteceu na Bósnia , que envolveu alguns americanos, e não só, num tráfico de escravas, denunciado por uma mulher americana, posteriormente demitida por causa disto por uma subsidiária da ONU (o caso de Kathryn Bolkovac, N.d.R.). Por este motivo, pareceu-nos oportuno envolver os médicos, porque também eles estão comprometidos, as instituições que deveriam defender são as mais afectadas . Portanto, por um lado, estamos diante de uma situação dramática, não se quer falar deste problema, não se quer ver o que está a acontecer; por outro lado faz-se o jogo duplo. Depois, estão aqueles Países que reconhecem a prostituição como um trabalho: também eles criam o mercado do tráfico. Na Alemanha, por exemplo, este problema é terrível. Mas não apenas na Alemanha, também em outros Países do Norte. Portanto, o Estado por um lado diz que se deve intervir, enquanto que por outro faz lucros. O Papa, desde o tempo em que ainda era arcebispo, tinha já intuído este grave problema social que atinge precisamente a alma do mundo social, das ciências sociais. Nós ficámos impressionados por não termos entendido antes.
Neste caso, com as actas desta conferência, o que a Igreja quer fazer?
R. - Nós queremos fazer este primeiro encontro; depois faremos outros, mas este é já um primeiro passo para irmos ao encontro dos desejos do Papa. Tentaremos fazer o melhor possível, não temos a presunção de ter encontrado a solução do problema, mas pelo menos é um passo em frente. Pedimos a Santa Sé para não aderir ainda ao Protocolo de Palermo (Protocolo das Nações Unidas sobre a prevenção, supressão e perseguição do tráfico de seres humanos, especialmente mulheres e crianças (N.d.R.), e ainda não tivemos resposta, pediram-no os próprios nossos académicos. Isso quer dizer que ainda não há uma política comum. Certamente o Papa quer pôr clareza nestas coisas. Deve-se fazer um elogio ao Papa: com a sua sensibilidade levou a nós da Academia - que discutíamos de coisas um pouco abstractas - à estrada concreta da realidade desta globalização que traz consigo aspectos terríveis, entre os quais - como ele mesmo disse em Lampedusa - a indiferença. As pessoas são vendidas, mas ninguém se importa da pessoa humana, a única coisa que importa é o dinheiro, ou melhor: ganha-se dinheiro com as pessoas como se fazia há tempos com a escravidão, e de certa maneira é ainda pior! Sobretudo se consideramos o aspecto sexual, em que estão envolvidos e comprometidos meninas e também meninos. E' uma das coisas mais trágicas do mundo global, juntamente com a imigração, cujos efeitos vimos em Lampedusa.
O fenómeno do tráfico, ou escravidão moderna, é analisado sob quais aspectos?
R. - Em todos os aspectos. O que nós queremos é perceber a real dimensão do fenómeno, que um pouco já se sabe, mas contudo queremos ter dados mais precisos. Queremos também alcançar uma ideia comum para a Igreja, para as Conferências Episcopais. Existem Conferências Episcopais, como a inglesa por exemplo, ou a de Guatemala, que elaboraram alguns documentos, mas creio que a Igreja como um todo não tem suficiente consciência do problema. E depois, queremos encontrar orientações concretas: pedimos a todos os convidados, aos observadores bem como aos relatores, para nos enviarem propostas concretas, e agora estamos a avaliá-las. Tem uma muito interessante apresentada por um médico, que sugere para preservar o DNA de crianças desaparecidas, juntamente com o dos pais que denunciam o seu desaparecimento, e confrontá-lo: de facto, a primeira coisa que os traficantes fazem é cancelar as suas impressões digitais.
Sabemos que na origem do tráfico, estão as condições de extrema pobreza, guerras, conflitos internos ... Há uma parte do mundo que explora tudo isso ...
R. - E vamos dizer isso . Começando por aqueles mesmos Países que têm leis que fazem um jogo duplo : por um lado, falam de vida humana, por outro lado as suas próprias instituições não querem ver este problema, ou até mesmo o favorecem . Por exemplo, peguemos naquilo que aconteceu na Bósnia , que envolveu alguns americanos, e não só, num tráfico de escravas, denunciado por uma mulher americana, posteriormente demitida por causa disto por uma subsidiária da ONU (o caso de Kathryn Bolkovac, N.d.R.). Por este motivo, pareceu-nos oportuno envolver os médicos, porque também eles estão comprometidos, as instituições que deveriam defender são as mais afectadas . Portanto, por um lado, estamos diante de uma situação dramática, não se quer falar deste problema, não se quer ver o que está a acontecer; por outro lado faz-se o jogo duplo. Depois, estão aqueles Países que reconhecem a prostituição como um trabalho: também eles criam o mercado do tráfico. Na Alemanha, por exemplo, este problema é terrível. Mas não apenas na Alemanha, também em outros Países do Norte. Portanto, o Estado por um lado diz que se deve intervir, enquanto que por outro faz lucros. O Papa, desde o tempo em que ainda era arcebispo, tinha já intuído este grave problema social que atinge precisamente a alma do mundo social, das ciências sociais. Nós ficámos impressionados por não termos entendido antes.
Neste caso, com as actas desta conferência, o que a Igreja quer fazer?
R. - Nós queremos fazer este primeiro encontro; depois faremos outros, mas este é já um primeiro passo para irmos ao encontro dos desejos do Papa. Tentaremos fazer o melhor possível, não temos a presunção de ter encontrado a solução do problema, mas pelo menos é um passo em frente. Pedimos a Santa Sé para não aderir ainda ao Protocolo de Palermo (Protocolo das Nações Unidas sobre a prevenção, supressão e perseguição do tráfico de seres humanos, especialmente mulheres e crianças (N.d.R.), e ainda não tivemos resposta, pediram-no os próprios nossos académicos. Isso quer dizer que ainda não há uma política comum. Certamente o Papa quer pôr clareza nestas coisas. Deve-se fazer um elogio ao Papa: com a sua sensibilidade levou a nós da Academia - que discutíamos de coisas um pouco abstractas - à estrada concreta da realidade desta globalização que traz consigo aspectos terríveis, entre os quais - como ele mesmo disse em Lampedusa - a indiferença. As pessoas são vendidas, mas ninguém se importa da pessoa humana, a única coisa que importa é o dinheiro, ou melhor: ganha-se dinheiro com as pessoas como se fazia há tempos com a escravidão, e de certa maneira é ainda pior! Sobretudo se consideramos o aspecto sexual, em que estão envolvidos e comprometidos meninas e também meninos. E' uma das coisas mais trágicas do mundo global, juntamente com a imigração, cujos efeitos vimos em Lampedusa.
Texto Retirado do site do CEBI